À chegada dele ao aeroporto aguardavam-no milhares
de pessoas. ao vê-lo descer as escadas as pessoas batem palmas, acotovelam-se e
gritam o seu nome; já no átrio, os polícias agitam-se para o manterem em
seguurança; ele caminha dentro do cordão de segurança, no meio de braços
esticados que o querem tocar... e, acto contínuo, arrasta-se ou é arrastado
pela polícia para a rua e é metido numa carrinha que arranca imediatamente.
nenhuma pausa neste pequeno percurso entre o início
das escadas e a saída do aeroporto, nenhuma elementar saudação (diziam alguns à
boca pequena). de súbito aquela gente no aeroporto sente frio como se, sem se
darem conta, a temperatura do ar tivesse repentinamente descido para níveis
nunca antes registados na cidade; e fome, que pouca gente ali havia sentido,
daquela que se experimenta depois de vários dias de abstinência. foi nessa
altura que tudo começou, as pessoas invadem salas do aeroporto com sinais
"proibida a entrada a pessoas estranhas" e lojas, procurando e
açambarcando agasalhos e comida. ninguém que ali estivesse tinha visto abrir-se
uma carteira que fosse.
ainda a caminho de casa ele diz aos pais, que iam
nos bancos da frente, que sentia um calor insuportável, de tal maneira que sua,
como se usa dizer, em bica, e experimenta uma sensação nunca antes sentida de
enfartamento, como se tivesse comido vários bois.