terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Inspiração revelada

Orgulho, vaidade, despeito, rancor, tudo passa, se verdadeiramente o homem tem dentro de si um autêntico sonho de amor. As palavras haviam sido lidas, embora de cor as soubesse, pelo especialista presente na reunião que juntara um grupo de pessoas para reflectir sobre a condição humana, mais concretamente sobre o sentido da vida humana. O especialista, também em frases feitas, dá-se conta que funda naquela espécie de máxima a sua esperança aguardando para amanhã a revelação desse amor sonhado. Uma mulher de camisa azul que ali estava interveio. O que me livra da miséria desses sentimentos é o meu egoísmo lúcido e consequente. Na sala fazia-se silêncio, resultado também do compromisso dos participantes em ouvir atentamente o que cada um tinha para dizer, de preferência, acrescento eu, sem fazer juízos morais. Dizíamos que se fazia silêncio, mas depois das palavras da mulher de camisa azul, parece ter-se instalado um mais profundo silêncio, fruto da própria imobilização dos participantes, que sempre acontece quando alguém se sai com algo inesperado e todos ficam, por instantes, imóveis como se ajudasse a ouvir melhor as palavras que se seguem. A mulher de camisa azul continuou. Este egoísmo não é semelhante àquele que tornou mais corcunda o já marreco Ricardo III Shakespeariano ou que assassinou o caprichoso Calígula. O aludido egoísmo consiste em reconhecer a humanidade de cada ser humano, não reduzindo a sua realidade complexa aos seus comportamentos, por um lado, e por outro não o tomando como instrumento ou necessidade para a realização dos meus fins. Sob esta perspectiva, os seres humanos afiguram-se-me realidades totais e contudo abertas ao possível e é aí que, como o outro fosse um espelho, tomo conhecimento da plenitude do meu ser onde a eterna possibilidade do meu querer encontra a sua máxima liberdade.

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